segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Mercados tomam providências para enfrentar calote


Fonte: Valor Econômico

O impasse sobre o teto da dívida do governo dos EUA jogou na incerteza grandes setores dos mercados, enfatizando as vulnerabilidades do sistema financeiro e o contínuo papel do governo nele, cinco anos após a crise de 2008.
Numa visão superficial, os investidores parecem não dar importância ao mais recente confronto político em Washington, semelhante a outro quase encontro com a calamidade, em 2011. Na quinta, a Média Industrial Dow Jones registrou seu maior aumento do ano. Em seguida, na sexta, subiu 111,04 pontos, para 15.237,11.
Em outros mercados, porém, os participantes vêm se preparando para uma possível moratória do governo, mesmo altamente improvável, como é consenso, enquanto reclamam que foram deixados no escuro. Alguns executivos do setor financeiro e bancário dizem que as implicações e as reações do mercado a uma moratória do governo americano são demasiado vastas e dinâmicas para serem compreendidas.
Ontem, Charles Schumer, senador democrata por Nova York, disse que os líderes do Senado que estão negociando para evitar uma crise na dívida pública e reabrir o governo federal têm grandes diferenças a superar, mas afirmou que está "cautelosamente esperançoso" quanto à possibilidade de ainda se fechar um acordo.
Schumer disse que o líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid, e o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, se reuniram no sábado e falaram sobre formas para acabar com o impasse sobre os gastos públicos. Segundo Schumer, esses dois políticos estavam "muito mais próximos, digamos, do que os republicanos da Câmara e o presidente".
Embora o mais recente impasse possa ser resolvido em breve com um acerto de curto prazo, a ameaça de uma moratória pode emergir mais uma vez antes do fim do ano.
A repetição das recentes táticas de só ceder no último minuto pode desestabilizar os mercados se uma brecha legal para autorizar os empréstimos se tornar novamente possível no fim do ano. Autoridades do governo e observadores do mercado temem que essa incerteza possa ter um efeito prolongado sobre os mercados financeiros.
"O impasse em Washington pode muito bem criar uma enorme volatilidade em mercados financeiros importantes, algo que pode facilmente sair do controle", disse Jim Millstein, que supervisionou a reestruturação do American International Group junto ao Departamento do Tesouro e agora administra a firma de reestruturação e consultoria Millstein.
Alguns investidores têm esperança de que uma possível válvula de escape esteja no Federal Reserve, o banco central americano.
Os bancos vêm pressionando o Fed e o Tesouro para informarem se o BC aceitaria títulos do Tesouro vencidos e não pagos como garantia para empréstimos de emergência no caso de uma crise de liquidez, mas disseram que não receberam respostas claras.
Representantes do Fed e do Tesouro não quiseram comentar. Mas o presidente do Fed, Ben Bernanke, já procurou ressaltar que a instituição não está planejando nenhuma grande operação de resgate para os mercados financeiros. Ele tem dito várias vezes que o BC não está em situação de amenizar os choques ao sistema financeiro ou à economia.
Numa coletiva de imprensa em 18 de setembro, ele reforçou a mensagem, alertando que o Congresso e o governo do presidente Barack Obama devem tentar evitar "qualquer tipo de evento como o de 2011", quando os legisladores enfrentaram a possibilidade de uma moratória do governo americano. "Nossa capacidade de contrabalançar esses choques é muito limitada, em particular a de um choque relativo ao limite do endividamento", disse Bernanke.
Muitos empresários ressaltaram que não creem que o pior venha a acontecer. "Uma moratória da dívida não pode acontecer", disse James Dimon, presidente do conselho e diretor-presidente do banco J. P. Morgan Chase, em teleconferência com repórteres na sexta-feira.
Executivos do T. Rowe Price Group estão planejando "acumular caixa e ficar numa posição líquida", disse Joe Lynagh, que supervisiona os fundos de mercado monetário da financeira, que administra US$ 614 bilhões.
Grandes participantes de fundos monetários, como Fidelity Investments, BlackRock, Charles Schwab e Bank of America, informaram ter vendido papéis de dívida dos EUA de curto prazo ou evitado comprar dívidas com vencimento no fim deste mês ou início de novembro. Os bancos venderam mais de 64% das suas notas do Tesouro no período de duas semanas terminado em 2 de outubro, segundo dados da regional de Nova York do Federal Reserve.
Michael Macchiaroli, diretor-associado da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a SEC, vem pedindo a grandes operadores de títulos detalhes sobre o que estão fazendo para se preparar para uma possível moratória do governo. Ele vem perguntando sobre os valores de certas notas do Tesouro que os operadores possuem e como eles estão se financiando, disse uma pessoa a par do assunto.
Um porta-voz da SEC disse que a agência está "entrando em contato com as empresas, como sempre fazemos nessas situações, para garantir que elas estejam considerando e administrando adequadamente os riscos das suas posições". O porta-voz disse que a equipe da SEC também está monitorando a situação dos fundos do mercado monetário e respondendo a perguntas do setor.
No Japão, as autoridades vêm examinando a exposição dos bancos aos títulos do governo americano e sua capacidade de comprar dólares. O Banco do Japão também vem entrando em contato com as instituições financeiras para verificar a capacidade delas de resistir a possíveis choques, segundo pessoas a par do assunto.
No fim de setembro, alguns dos principais participantes de Wall Street do mercado de títulos do Tesouro americano, de US$ 11,6 trilhões, juntamente com autoridades do Fed, se reuniram para discutir o plano de emergência do setor para o caso de uma crise da dívida, segundo a ata da reunião.
Embora o grupo, conhecido como Treasury Market Practices Group (Grupo de Práticas do Mercado de Notas do Tesouro), tenha apresentado alguns planos operacionais após o episódio de limite da dívida de 2011, reconheceu que "essas ações de contingência, caso implementadas, iriam apenas atenuar, não eliminar, as dificuldades operacionais esperadas no caso de atraso nos pagamentos da dívida do Tesouro". (Colaborou Carolyn Cui)

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