terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Registro de tributos sobre o lucro no RTT

Fonte: Valor Econômico

No processo de implementação das normas internacionais de contabilidade pelo Brasil, a partir das alterações promovidas na legislação contábil em 2007/2008, uma das grandes preocupações das empresas (talvez a maior) residia nos efeitos tributários gerados pelo novo padrão de contabilidade. Em resposta a essa preocupação, a própria Lei nº 11.638, de 2007, ao dar nova redação ao artigo 177, parágrafo 7º da Lei das Sociedades por Ações, estabeleceu a segregação das informações contábeis: de um lado, para fins societários e, de outro, para fins tributários; porém, a solução dada não agradou à Receita Federal do Brasil. Assim, um ano depois, o mencionado dispositivo foi revogado, e, em seu lugar, foi instituído o Regime Tributário de Transição (), que passou a ser obrigatório para todas as empresas a partir de 2010.
O RTT tem como objetivo fundamental estabelecer a neutralidade tributária com relação à adoção das normas internacionais de contabilidade. O procedimento para concretizar essa neutralidade é, em si, muito simples: consiste em serem revertidos todos os lançamentos contábeis efetuados em observância aos Pronunciamentos Técnicos do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), para, com base em demonstrações contábeis elaboradas de acordo com as normas contábeis brasileiras vigentes em dezembro de 2007, partir-se para a apuração do lucro tributável – lucro real ou lucro presumido.
Para auxiliar as empresas nessa reversão de lançamentos e para assegurar o acesso à informação sobre isso à Receita Federal do Brasil (até para fins estatísticos), foi criado o Controle Fiscal Contábil de Transição (FCONT), atualmente incorporado ao e-LALUR (Livro de Apuração do Lucro Real eletrônico).
Se o procedimento do RTT é, por si e em si, conceitualmente simples, a sua execução suscita diversas dúvidas. As complicações surgem com o cuidado que as empresas devem ter para não desconsiderar, na apuração do lucro real (por exemplo) valores ainda tratados pela legislação tributária, mesmo que tenham sido registrados de acordo com os Pronunciamentos do CPC, como nos casos do impairment do ágio e da depreciação. Além disso, a situação pode ficar ainda mais confusa em alguns setores em que não se tem claro qual a base da distribuição de dividendos isentos: o lucro contábil, apurado de acordo com as normas internacionais de contabilidade, ou o lucro que serviu de base para o cálculo dos tributos sobre o lucro.
Outro ponto de atenção a ser levantado diz respeito ao registro contábil dos tributos sobre o lucro – Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) – nos termos do Pronunciamento Técnico CPC nº 32. Esse registro consiste em reconhecer na contabilidade não só os tributos presentes (devidos no corrente ano), mas também os tributos diferidos, que são reflexos de ajustes fiscais passados ou futuros. Basicamente, os tributos diferidos são calculados quando há diferença entre o valor contábil de ativo ou passivo no balanço e a sua base fiscal, isto é, o valor atribuído àquele ativo ou passivo para fins fiscais (item 5 do CPC 32).
E a questão do registro dos tributos diferidos é de extrema importância porque ele está diretamente relacionado ao resultado do exercício (lucro ou prejuízo), tomado como base para a distribuição de dividendos. Vejam-se os seguintes exemplos: quando a empresa usufrui determinado benefício fiscal que será revertido no futuro (depreciação acelerada incentivada), ela deve reconhecer os tributos que deixou de pagar agora, mas que deverá pagar no futuro, gerando passivo fiscal diferido – em contrapartida, é registrada despesa correspondente aos tributos sobre o lucro, que não é dedutível para fins tributários; por outro lado, a empresa que possui saldo de prejuízo fiscal e, com a perspectiva de geração de lucro, comprovar que irá aproveitá-lo em breve, pode reconhecer contabilmente esse “crédito fiscal” (valor que, por meio da compensação, diminuirá o lucro tributável), gerando ativo fiscal diferido – e a correspondente receita não tributável. O impacto nos dividendos, portanto, é direto, para menos ou para mais.
Considerando que o RTT consiste em expurgar o efeito tributário de lançamentos contábeis, a diferença acima citada é inevitável. Praticamente, quase todos os ajustes do FCONT são base para tributo diferido, ativo ou passivo. E assim, mesmo com a querida e buscada neutralidade, não se evitarão, por completo, os reflexos tributários das novas normas contábeis.” (Fonte: Valor Econômico, publicado em www.joseadriano.com.br)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Bolsas europeias deslizam com previsão mais pessimista do Banco Mundial

Fonte: http://dinheiro.br.msn.com, em 18/01/2012

Os principais índices acionários da Europa verificam perdas no pregão desta quarta-feira (18) diante da perspectiva mais pessimista do Banco Mundial para a economia global este ano.

Os receios de que o enfraquecimento da Zona do Euro leve a um arrefecimento das economias emergentes levou o organismo bilateral a reduzir sua previsão para a economia global em 2012 e 2013, para 2,5% e 3,1%, respectivamente. As estimativas divulgadas em junho de 2011 indicavam crescimento mundial de 3,6% nos dois anos.

O Banco Mundial também adiantou a recessão no conjunto dos 17 países da moeda única para 2012, prevendo crescimento negativo de 0,3% na região. A projeção anterior era de expansão de 1,9%.

De olho na Grécia

A situação fiscal na Grécia também está no radar dos investidores. O governo grego deve retomar as negociações com seus credores internacionais nesta quarta-feira, com objetivo de definir detalhes sobre um plano de reestruturação da dívida do país, antes da reunião de ministros de Finanças da Zona do Euro, marcada para 23 de janeiro.

Após dois dias de conversações, o encontro entre Atenas e seus credores foi interrompido na última sexta-feira sem um acordo definitivo. A maior disputa entre os dois lados são os pagamentos de juros anuais sobre os novos bônus que seriam trocados pelos antigos.

Segundo informações da Bloomberg, as partes estariam perto de um acordo. Citando um dos membros da comissão de credores, a agência informa que os credores devem recuperar € 0,32 por € 1,00 detido na dívida grega. Já o primeiro-ministro grego, Lucas Papademos, afirmou em entrevista ao New York Times nesta quarta-feira que, se um acordo não for alcançado, uma lei poderá forçar os credores a aceitarem perdas.

Mercado de dívida

Após as atuações do governo espanhol e do EFSF (Fundo Europeu de Estabilização Financeira) no mercado de dívida, agora é a vez de Portugal testar o apetite dos investidores por seus títulos públicos. O Tesouro português realizará um leilão triplo de dívida de curto prazo. Serão ofertados bônus para três e seis meses, além dos primeiros títulos com vencimento em cerca de um ano, emitidos desde que o país procurou empréstimo da União Europeia e do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Destaques corporativos

No campo corporativo, o sinal negativo também predomina entre os ativos do setor bancário. Em Paris, as ações do BNP Paribas e do Société Générale sobem 1,37% e 1,84%, respectivamente. Em Frankfurt, os papéis do Commerzbank recuam 1,46% e os do Deutsche Bank avançam 0,85%. Em Londres, os ativos do Lloyds perdem 1,30%, enquanto os do RBS e do Barclays têm perdas de 2,27% e 0,70%, nessa ordem.
As mineradoras também aparecem no lado vendedor dos negócios, após os ganhos da véspera, os quais fora impulsionados por dados chineses. No pregão britânico, as ações da Xstrata e as da Rio Tinto se desvalorizam em 0,85% e 0,75%, respectivamente.
















































terça-feira, 3 de janeiro de 2012

IFRS 2: Contabilização de Stock Options – Parte 2

Extraído de: http://ifrsbrasil.wordpress.com

Exemplificando:
(a) Em 1 de janeiro de 2008 Beta concede 5.000 opções de compra de ações aos seus 20 diretores. A condição de concessão (vesting condition) é baseada na permanência na empresa por 5 anos. O valor justo de cada opção na data da concessão (grant date) é de R$ 50. A entidade estima que 4 diretores se desligarão da entidade ao longo dos 5 anos. Considere que tudo ocorreu conforme o esperado.

Resposta
Ano Cálculo Despesa do período   Patrimônio Líquido
2008 5.000 opções 16 x R$ 50 x 1/5 anos 800   800
2009 (5.000 opções x 16 x R$ 50 x 2/5) – 800 800   1.600
2010 (5.000 opções x 16 x R$ 50 x 3/5) – 1.600 800   2.400
2011 (5.000 opções x 16 x R$ 50 x 4/5) – 2.400 800   3.200
2012 (5.000 opções x 16 x R$ 50 x 5/5) – 3.200 800   4.000

(b) Com base no exercício anterior, só que ao final do ano de 2009, 3 diretores se desligaram da entidade, o que levou a empresa a fazer uma nova estimativa de que 6 diretores que se desligaram  Em 2011 a estimativa mudou para 5 diretores, mantendo-se a estimativa até o final. A estimativa se mostrou correta.

Resposta

Ano Cálculo Despesa do período   Patrimônio Líquido
2008 5.000 opções 16 x R$ 50 x 1/5 anos 800   800
2009 (5.000 opções x 14 x R$ 50 x 2/5) – 800 600   1.400
2010 (5.000 opções x 14 x R$ 50 x 3/5) – 1.400 600   2.000
2011 (5.000 opções x 15 x R$ 50 x 4/5) – 2.000 1000   3.000
2012 (5.000 opções x 15 x R$ 50 x 5/5) – 3.000 750   3.750

(c) Um banco de investimento está querendo ampliar sua presença em um novo país cujo potencial é muito forte. Assim, foi contratada uma equipe de operadores com extrema experiência no mercado de capitais do país, Visando a permanência e motivação da equipe, foram concedidas opções de ações para cada um dos 20 operadores, desde que permaneçam por 3 anos e que o lucro da corretora aumente. Conforme a taxa de crescimento do lucro é determinado o número de opções concedidas.

10% – 15% – 100 opções/funcionário
10% – 20% – 150 opções/funcionário
20% ou mais – 200 opções/funcionário

Na data de concessão (grant date), o valor justo de cada opção é estimado em R$ 30. Devido às condições favoráveis do mercado de capitais do país e nível dos empregados, espera-se que o crescimento seja maior que 20% a.a.. Devido a boa remuneração paga aos traders não é esperado nenhum desligamento durante os 3 anos.

No final do primeiro ano, nenhum dos operadores se desligou e a expectativa para aumento no lucro continua a mesma. Com a crise financeira mundial, no segundo ano, a expectativa de crescimento no lucro foi reduzida para algo próximo de 15 %a.a. e de que 3 operadores se desligariam. Durante o terceiro ano é esperado que mais 3 operadores se desliguem. Porém, neste ano, o mercado se recuperou, e a taxa média do aumento na lucratividade foi para 22% a.a., e nenhum operador se desligou.

Resposta

Ano Cálculo Despesa do período   Patrimônio Líquido
1 200 opções x 20 x R$ 30 x 1/3 anos 40.000   40.000
2 (150 opções x 14 x R$ 30 x 2/3) – 40.000 2.000   42.000
3 (200 opções x 17 x R$ 30 x 3/3) – 42.000 60.000   102.000

(d)  Em 1º de janeiro de 2007 o conselho de administração da empresa Gama concedeu aos seus 30 diretores 1.000 opções de compra de ações por R$ 15/cada em 31 de dezembro de 2008, sujeitas a permanência no cargo até 31 de dezembro de 2008 e que a cotação das ações de Gama esteja pelo menos R$ 20. O valor nominal de cada ação é R$1. A seguir são apresentadas algumas informações adicionais.
  • Em 1º de janeiro de 2007 o conselho de administração estima que 6 diretores irão se desligar durante o período de acumulação (vesting period). Durante o ano de 2007, dos 30 diretores, 4 se desligaram, assim o conselho revisou sua estimativa e, agora espera que mais 4 diretores se desliguem durante o ano de 2008.
  • Em 1º de janeiro de 2007 as ações de Gama estavam cotadas a R$15. Durante 2007 a cotação das ações se elevou para R$ 19. O conselho está confiante que a cotação em 31 de dezembro de 2008 superará R$ 20.
  • Em 1º de janeiro de 2007 o conselho estimou o valor justo das opções em R$ 10, e em 31 de dezembro de 2007 a estimativa aumentou para R$ 12.
Sobre as demonstrações financeiras de 31 de dezembro de 2009, o número de diretores que se desligaram mostrou-se correto. E ainda, 90% dos diretores exerceram seus direitos em 31 de dezembro de 2009, o restante das opções não exercidas vencem em 31 de dezembro de 2010.

Pede-se

A contabilização do plano de pagamento baseado em ações em 31 de dezembro de 2007, 2008 e 2009.

Resposta
Ano Cálculo Despesa do período   Patrimônio Líquido
2007 1.000 opções x 22 x R$ 10 x 1/2 anos 110   110
2008 (1.000 opções x 22 x R$ 10 x 2/2) – 110 110   220

Em 31 de dezembro de 2008 foram exercidas 90% das opções, ou seja, 900 opções (90% x 1.000), assim Gama recebeu um pagamento total de R$ 13.500(900 x R$ 15). Todas as ações foram emitidas, como o valor de face é R$ 1, o capital social da empresa será aumentado em R$9.000 (9.000 x R$ 1) e a reserva de prêmio na emissão em R$ 12.600 (900 x R$ 14). Do saldo acumulado de R$ 220.000 referente ao plano de pagamento baseado em ações será transferido para lucros acumulados, devido ao prazo para exercício das opções ter se expirado. Não existe nenhum impacto no resultado do período referente ao exercício das opções.

Lançamentos contábeis
Exercício da opção R$ mil
D – Caixa 13,5
D – Capital social 9
C – Reserva de emissão 12,6
Fim do prazo de exercícios das opções  
D – Direito acumulado (stock option) 220
C – Lucros acumulados 220

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

IFRS 2: Contabilização de Stock Options – Parte 1

Extraído de: http://ifrsbrasil.wordpress.com

Dentro do contexto econômico atual, as empresas buscam agir de maneira a maximizar o valor da firma. Um dos mecanismos que tem sido encontrado com frequência se refere a uma técnica de remuneração variável, os chamados stock options. Tal política de remuneração, em teoria, diminui os conflitos de agência, pois os empregados passam a ter um estímulo para maximizar o valor da firma, e consequentemente, sua remuneração.  Em adição, aumenta o comprometimento e motivação dos funcionários. Pagamentos baseados em ações são usados há longa data. Sua origem é de 1952, quando a Chrysler Corp os implantou. Porém, somente em 1970, esse mecanismo começa a ser implementado no Brasil, nas empresas norte-americanas instaladas no país. A utilização de pagamentos baseados em ações acarreta questões complexas e controversas na contabilidade, destacando-se:

• Tal remuneração deve ser reconhecida como despesa?
• Representa um passivo ou um item do patrimônio líquido?
• Como deve ser mensurada?
• Qual período deve ter seu resultado afetado, na sua emissão, quando exercida ou outro momento?

Este assunto apenas começou a ser regulamentado, dentro do contexto da contabilidade, pelo FASB em 1995, por meio da Norma SFAS 123 – Accounting for Stock-Based Compensation. Devido ao grande impacto que a norma viria a causar nas demonstrações contábeis, o tema foi considerado um dos mais controversos politicamente na história do FASB. A norma não possuía caráter obrigatório, apenas era recomendada sua adoção, assim muitas empresas continuavam a utilizar norma anterior. Tendo em vista a convergência com as IFRS, e também pelos vários escândalos contábeis ocorridos nesta década, o FASB retornou as discussões sobre a SFAS 123, implementando algumas alterações e a tornando obrigatória nas demonstrações contábeis referentes ao exercício de 2006. O IASB emitiu a IFRS 2 – Share-based payments. Em 2008, o CPC emitiu o CPC 10 – Pagamento Baseado em Ações, sendo deliberado pela CVM através da Deliberação CVM 562/2008. Tal deliberação é uma tradução do IFRS 2. Essa deliberação foi necessária devido a uma alteração no art.187 da Lei 6.404/1976. O art. 187 trata dos itens que devem compor o resultado do período, a alínea em questão é a VI, que diz que devem ser inclusas:

“VI – as participações de debêntures, de empregados e administradores, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracterizem como despesa;”

O IFRS 2 trata de diversos tipos de pagamentos baseados em ações, porém, o presente artigo vai ser focado nas transações mais relevantes e rotineiras, os pagamentos em stock options. Basicamente as stock options são um tipo de remuneração onde um funcionário recebe opções de comprar de ações da empresas em determinada data futura por um preço pré-estabelecido, muitas vezes existem condições (vesting conditions) anexadas ao pagamento, como permanência na empresa, resultados entre outros.

Resumindo a contabilização de tais operações, o valor a ser reconhecido é o valor justo do instrumento de patrimônio na data de concessão, não existindo ajustes posteriores. Esse valor deve ser reconhecido no patrimônio líquido com contrapartida no resultado durante o período de acumulação do benefício (vesting period). A despesa reconhecida no resultado do período é a diferença entre o montante acumulado no início e no final do período.  As condições de aquisição de direito (vesting conditions) que não sejam condições de mercado não serão levadas em consideração na estimativa do valor justo do instrumento de patrimônio, mas sim no número de instrumentos de patrimônio incluídos na mensuração do número de instrumentos patrimoniais que serão adquiridos, sendo contemplados em todos os períodos. Já as condições de mercado são levadas em conta somente na mensuração do valor justo dos instrumentos de patrimônio concedidos. Após a data de aquisição de direito (vesting date) não pode haver mais ajustes no valor reconhecido acumulado, apenas transferências entre contas patrimoniais.