A queda
desta semana fez com que o valor dos papéis voltasse ao mesmo nível de antes das
informações sobre a fórmula de preços
As variações com ações da Petrobras no último mês mostram que a queda de 10%
após o anúncio do reajuste não foi tão surpreendente como o quadro pintado por
comentaristas. As cotações das ordinárias começaram a variar após declarações da
presidente da companhia, Maria da Graça Foster, sobre a criação de um reajuste
automático dos combustíveis, veiculadas na imprensa no dia 25 de outubro. Aquela
foi a largada para um verdadeiro rali, que contou com a participação intensa de
investidores estrangeiros, segundo analistas de bolsa. Nos pregões seguintes, a
ação ordinária saiu de R$ 17,06 para um pico de R$ 20,34 em dia 18 de novembro,
sempre variando ao sabor das declarações sobre o possível reajuste.
No pregão de ontem, as ordinárias da petroleira fecharam cotadas a R$ 16,57,
alta de 0,91% no dia e recuo de 2,9% em relação ao pago por investidores em 24
de outubro, antes de a palavra "gatilho" tomar de assalto o noticiário sobre a
empresa. "Foi um reajuste abaixo do que o mercado esperava, algo em torno de 10%
para o diesel e 5% para a gasolina. Mas houve um certo exagero na queda
concentrada de 10% na segunda-feira", comenta o analista-chefe da corretora SLW,
Pedro Galdi. A versão corrente no mercado dava conta de que a queda das ações
teria sido provocada pela não definição da fórmula de reajustes.
Análise do desempenho das ações no período, no entanto, indica que as ações
já vinham sofrendo com notícias sobre a resistência do governo em implantar uma
fórmula de reajuste automático, indexado ao valor do petróleo e seus derivados
no mercado internacional.
O otimismo do mercado com a possibilidade de novos reajustes se intensificou
no dia 28 de outubro, tendo como catalisador uma declaração do diretor
financeiro da Petrobras, Almir Barbassa. "Não sei se vai ser um gatilho. O
importante é que vai permitir trazer a previsibilidade", disse ele, em coletiva
para apresentar o balanço do terceiro trimestre. A ideia da diretoria da
Petrobras era criar um método de reajustes automáticos, sem necessidade de
passar pela diretoria, que acompanhasse a cotação internacional do petróleo.
Apesar da esquiva do executivo, o termo "gatilho" começou a tomar forma, ao
menos na cotação em bolsa da empresa. Naquele pregão, as ordinárias subiram
9,9%.
Dois dias depois, foi a vez de um fato relevante atiçar os investidores.
Tanto se falou sobre a ideia que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
solicitou à companhia que a detalhasse. "A metodologia contempla reajuste
automático do preço do diesel e da gasolina em periodicidade a ser definida
antes de sua implantação, baseado em variáveis como o preço de referência desses
derivados no mercado internacional, taxa de câmbio e ponderação associada à
origem do derivado vendido, se refinado no Brasil ou importado", comentou a
companhia no comunicado. A cotação chegou, no último pregão de outubro, a R$
19,54.
O anúncio de uma reunião extraordinária do Conselho de Administração da
Petrobras para o dia 8 foi motivo suficiente para criar novas expectativas em
torno das ações da petroleira. A presidente Graça Foster teve de negar que a
nova fórmula de reajuste dos combustíveis seria discutida no encontro, que em
seguida foi adiado para o dia 12. A pauta do encontro foi a incorporação de
subsidiárias integrais com a intenção de simplificar a estrutura societária da
companhia. Ou seja, nada sobre o gatilho foi divulgado ao mercado.
O que interessava era a reunião extraordinária, que vinha sendo adiada. A
data, de 22 de novembro, passou a ser a última sexta-feira de novembro, dia 29.
Na quarta-feira anterior, porém, o ministro Guido Mantega, presidente do
Conselho de Administração da companhia, afirmou que a correção do combustível
não viria por indexação, o que descontrolaria a inflação. Aviso claro de que
algo como o gatilho, portanto, não estava nos planos dos conselheiros. Naquele
dia, a ação caiu 6%.
Esse foi o último ato antes da reunião do Conselho de Administração, que
começou na manhã da sexta-feira. Naquele dia, após nova queda nas cotações da
Petrobras durante o pregão de quinta-feira, os papeis da companhia subiram, com
as ordinárias avançando 3,3%. Movimento parecido ocorreu com o saldo financeiro
dos estrangeiros que atuam na bolsa. Apenas naquela sexta-feira, os estrangeiros
ficaram com suas carteiras R$ 261 milhões mais cheias aqui no Brasil. O valor
representa metade do saldo positivo do mês de novembro, que fechou em R$ 521
milhões.
De acordo com informações públicas, as corretoras que mais negociaram ações
ordinárias da Petrobras durante os últimos sete dias terminados ontem foram
Credit Suisse, UBS e Merril Lynch. Um analista que prefere não se identificar
conta que os clientes dessas corretoras são, majoritariamente, estrangeiros. "O
movimento de queda ter sido mais forte com as ordinárias é outro indício de que
os estrangeiros apostaram que algo diferente saísse daquela reunião. Eles
preferem as ordinárias porque ali também está o governo, o que sempre garante
dividendos gordos para essa categoria de investidores", disse Gaudí.
"Desde que a diretoria sugeriu o gatilho, criou-se a expectativa de que o
governo iria se sensibilizar. Mesmo que o Mantega tenha indicado que a fórmula
de reajuste não teria algo como um gatilho, um indexador, o mercado entendeu que
o governo poderia se sensibilizar. É terrível, mas o investidor já não consegue
mais acreditar no que diz o governo", diz Galdí, da SLW.
Uma sequência de travas automáticas que explicasse a queda de 10% em apenas
um pregão foi rechaçada, já que deveria haver muitas ordens em sequência. A
verdade é que as ações terminaram o pregão de segunda-feira com a maior queda da
Petrobras em cinco anos, não por força de um acidente ou de algo mais grave. O
recuo recorde aconteceu porque a segunda-feira foi o fim de um rali de dois
meses.
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