domingo, 28 de novembro de 2021

Governo aprova novo arcabouço para contabilidade de bancos, alinhado ao IFRS 9

 Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2021/11/25/governo-aprova-novo-arcabouco-para-contabilidade-de-bancos-alinhado-ao-ifrs-9.htm?fbclid=IwAR2aYjnTnODRsnP_uULpwG9f6Z5nkiNsIji_N_3GY6SViB6Ah_P5_l76Zjc

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25/11/2021 19h06


O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou nesta quinta-feira resolução que alinha critérios contábeis aplicáveis a instrumentos financeiros detidos pelas instituições financeiras às melhores práticas internacionais, mais especificamente ao chamado IFRS 9.

O novo arcabouço vem após consultas públicas sobre o tema abertas em 2017 e 2018 e representa, segundo o Banco Central, "passo relevante" em direção à finalização do processo de convergência das normas contábeis previstas no Padrão Contábil das Instituições Reguladas pelo Banco Central do Brasil (Cosif) em relação aos padrões internacionais de contabilidade.

As novas normas entrarão em vigor em 1º de janeiro de 2025. O BC defendeu que, com o prazo, haverá tempo suficiente "para ajustes nos processos e rotinas das instituições financeiras, garantindo um processo de transição suave e eficiente".

O IFRS 9 é o padrão internacional de contabilidade para classificação, reconhecimento, mensuração e provisionamento de instrumentos financeiros. 

Ele foi editado pelo International Accounting Standars Board (IASB) em 2014, em decorrência da crise financeira de 2008, passando a valer a partir de 2018. 

Com seu advento, a provisão deve ser constituída pelas instituições financeiras com base na perda esperada, já na data da concessão do crédito e com reavaliação periódica sempre que houver indícios da deterioração da capacidade creditícia do tomador de crédito ou do emissor do instrumento.

Recentemente, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, criticou o fato de a base de capital do sistema bancário brasileiro ser muito concentrada em crédito tributário, com a fórmula para um banco contabilizar perda esperada sendo muito diferente da que a contabilidade exige, e defendeu a inserção do IFRS 9 para eliminação desta distorção referente à criação de crédito tributário. 

Uma fonte do governo, contudo, disse à Reuters que apenas o novo arcabouço não resolve a questão dos créditos tributários. Em condição de anonimato, a mesma fonte pontuou que um projeto de lei foi elaborado sobre o tema e ainda está em fase de avaliação interna pela equipe econômica.


terça-feira, 23 de novembro de 2021

Mercado de Carbono: O que é? Contribui mesmo para reduzir emissões?

 By: Juliana Domingos de Lima

De Ecoa, em São Paulo (SP)

23/11/2021 06h00


Fonte: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2021/11/23/mercado-de-carbono-o-que-e-contribui-para-reduzir-emissoes.htm


A regulamentação do mercado global de carbono foi um dos tópicos principais das negociações realizadas na COP 26, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas realizada entre 31 de outubro e 12 de novembro deste ano em Glasgow, no Reino Unido.


O mecanismo permite que nações que superarem as metas de redução de emissões de gases do efeito estufa comercializem esse excedente para os países que não forem capazes de diminuir para o nível necessário. 


A conversão de emissões em recursos monetários tem o objetivo de incentivar economias a se descarbonizarem para limitar o aquecimento do planeta em 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais, como prevê o Acordo de Paris. Esse mecanismo de mitigação supervisionado pelas Nações Unidas está descrito no 6º artigo do acordo e teve suas regras definidas nesta COP..


O comércio internacional já acontece entre algumas partes do mundo — por exemplo, entre o estado da Califórnia, nos EUA, e a província do Quebec, no Canadá —, mas será facilitado com a regulamentação do mercado pela ONU. 


No nível nacional, a elaboração de um instrumento interno de precificação de emissões de empresas, setores econômicos, municípios e estados independe do resultado das negociações na COP. Muitos países já possuem regulações próprias.


Mas a precificação do carbono — e a maneira como deve ser desenhada — está longe de ser um ponto pacífico entre especialistas, ativistas, organizações e outros atores. "Por que é preciso criar valor econômico para convencer alguém a cuidar do planeta?", questiona o geógrafo e doutorando da Universidade Federal Fluminense Diosmar Filho, que esteve na COP 26.


Como o mercado de carbono surgiu?


Os mercados de carbono começaram a tomar forma no mundo a partir do Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 por países integrantes da ONU. O acordo internacional colocou a meta de que países desenvolvidos diminuíssem em 5,2% (em relação aos níveis de 1990) suas emissões de gases causadores do efeito estufa até 2012.


Para ajudar a atingir o objetivo, foram criados instrumentos como a implementação de projetos de redução de emissões em outros países — envolvendo, por exemplo, energia renovável ou reflorestamento — em troca de créditos de carbono, bem como a venda de créditos a países que ultrapassassem o teto do protocolo, que foi chamado de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.


A assinatura do Acordo de Paris em 2015 renovou as metas, que passaram a valer para todos os signatários, e introduziu um novo mecanismo de flexibilização, que incentiva uma participação maior do setor privado. A regulamentação desse ponto vinha sendo discutida desde então e foi uma das resoluções da COP 26.


Que tipos de mercado existem?.


Existe um mercado regulado, que opera com metas de redução de emissões a serem cumpridas de forma obrigatória por países (como no caso dos acordos internacionais) ou internamente por cidades, estados e empresas. Quem ultrapassa o teto pode comprar licenças — ou créditos — daqueles que emitirem abaixo do limite ou, dependendo do instrumento em vigor, pode ter que pagar um tributo pelas emissões.


Há também um mercado voluntário, em que empresas, organizações e até pessoas tomam a iniciativa de compensar emissões decorrentes de suas atividades. Nesse caso, elas adquirem créditos que financiam projetos de reflorestamento, conservação ambiental ou de energia limpa. Esses créditos não valem como meta de redução para os países que fazem parte do Acordo de Paris.


O que são e onde se inserem os créditos de carbono?.


A expressão corresponde a unidades representativas de 1 tonelada de carbono que deixou de ser lançada para a atmosfera a partir de projetos com práticas e tecnologias de baixo carbono, seja no mercado regulado ou por atores privados com interesse voluntário em compensar suas emissões. Também pode representar uma permissão de emissão dentro de um sistema de comércio de carbono criado e regulado pelo governo para determinados setores econômicos.


Qual a posição do Brasil? Essas transações já ocorrem aqui?.


O Brasil ainda não possui um mercado de carbono regulado e obrigatório nem outras políticas mais amplas de precificação de carbono. 


Chefe do departamento de direito ambiental do escritório Stocche Forbes, a advogada Caroline Prolo lembra que uma das únicas iniciativas que se aproximaram disso foi o programa RenovaBio, instituído em 2017 para contribuir com o cumprimento dos compromissos firmados pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris, mas voltado somente para o setor de biocombustíveis.


O que existe atualmente no país é um mercado voluntário, no qual atuam empresas como a Moss, que comercializa créditos de carbono de projetos ambientais certificados para empresas e pessoas físicas que desejam compensar suas emissões. Seus clientes vão do iFood ao automobilista Cacá Bueno. Projetos como esses são chamados de REDD+ — Redução de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação Ambiental.


Outro exemplo é o Prêmio Ecoa, que terá sua primeira edição em dezembro de 2021, irá quantificar e neutralizar as emissões geradas (no consumo de energia elétrica, viagens aéreas e produção de resíduos, por exemplo), alocando a quantidade equivalente de créditos em projetos ambientais certificados. 


No mercado internacional, o Brasil também hospeda projetos de créditos de carbono utilizados por atores de outros países.


"Com o Acordo de Paris, essas transferências internacionais poderão ser intensificadas, pois ele apresenta diversas possibilidades, tanto de acordos entre o governo brasileiro e outros países para transferência de unidades de mitigação de carbono, quanto a possibilidade de empresas e iniciativas privadas realizarem projetos e venderem créditos de carbono para serem usados por outros países para cumprirem suas metas", diz Prolo. 


Atualmente, o Congresso discute o Projeto de Lei 528/21, que visa instituir o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões, regulando a compra e venda de créditos de carbono no país.


O setor agropecuário tem mostrado interesse no mercado voluntário pelo potencial de gerar créditos (e retorno financeiro) através da agricultura de baixo carbono ou mesmo da recuperação de pastagens.


Como esses mercados podem contribuir para reduzir emissões?.


Para Guarany Osório, coordenador de programa do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp, "a precificação do carbono não é bala de prata, é um instrumento dentre vários" para combater o efeito estufa. 


Apesar disso, ele destaca o mercado regulado de carbono como um instrumento importante por duas razões: por internalizar o preço das emissões na economia e por ajudar a reduzir emissões de maneira mais custo-efetiva, ou seja, mais barata.


Em relação ao primeiro aspecto, o professor aponta que empresas não colocariam espontaneamente um preço no carbono, o que justifica a necessidade de uma política pública para incorporar o custo dessa externalidade negativa — em "economês", os efeitos colaterais da venda de um produto ou serviço. 


Já o segundo ponto se refere ao fato de que esse mercado permite que empresas para as quais reduzir emissões é mais barato façam uma redução além do previsto e vendam licenças para aquelas que precisariam investir mais para conseguir isso, atingindo o teto estabelecido com o menor custo possível.


Esses mercados têm sido um mecanismo útil para reduzir as emissões de GEEs?


Ainda há poucos mecanismos devidamente regulamentados de compensação de emissões, o que dificulta verificar se estão de fato contribuindo para uma redução. 


"Foram úteis, mas não suficientes", afirma a advogada Caroline Prolo. "Se bem desenhados, os mercados de carbono ajudam a controlar as emissões e estimulam o desenvolvimento tecnológico que é essencial para a descarbonização da economia global.".


De acordo com o Banco Mundial, os esquemas de precificação de carbono em vigor atualmente no planeta cobrem cerca de 13% das emissões globais anuais de gases de efeito estufa.


Quais as críticas?


Algumas organizações ambientais, como o Greenpeace, avaliam que o mercado de carbono equivale a uma "licença" para que países e empresas continuem emitindo CO2, em um contexto em que reduções cada vez mais drásticas são necessárias para enfrentar a crise climática. 


No caso brasileiro, em que uma fração significativa das emissões provém do uso da terra, também há críticas à maneira como esses mecanismos já vinham se aplicando aqui e às estratégias apresentadas pelo Brasil na COP 26.


O geógrafo Diosmar Filho critica o "reflorestamento" feito no país com base na monocultura de eucaliptos, que leva a uma redução da biodiversidade, como foi o caso nos projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Grupo Plantar, que começaram a ser implementados em 2000, após o Protocolo de Kyoto. 


Ele também aponta que a recuperação de pastagens degradadas, uma das ações apresentadas na COP pelo governo, não deve ser o foco do país para reduzir emissões.


"A gente está correndo o risco de cair na mesma estrutura anterior de desigualdades, que é manter as monoculturas que são predatórias. Não existe precificar aquilo que é passivo de degradação ambiental", disse.


Como a precificação deve funcionar para que seja justa e eficaz?


No caso do Brasil, o geógrafo Diosmar Filho afirma que a descarbonização da economia e o emprego de mecanismos como os mercados de carbono devem partir da regularização de terras indígenas e quilombolas. 


Para ele, as demarcações ajudariam a alcançar o desmatamento zero — tendo em conta que o desmatamento responde por grande parte das emissões no país — e, com a precificação do carbono, ainda trariam um retorno econômico para as populações tradicionais que mantêm a floresta em pé. "Se for para ter mercado de carbono, que ele beneficie quem cuida da terra", afirmou.



segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Sem diploma universitário? Cada vez mais empregadores nos EUA não se importam

 Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/business/sem-diploma-universitario-cada-vez-mais-empregadores-nos-eua-nao-se-importam/

Entre os motivos está a necessidade de abordar desigualdades sistêmicas e o preconceito inconsciente em suas práticas de contratação e promoção


Se você não tem um diploma universitário, pode presumir que tem poucas chances de desenvolver uma carreira bem remunerada, com benefícios e potencial de crescimento em uma empresa da lista da Fortune 500. Afinal, tantos empregos exigem um diploma de curso superior.

Mas suas chances podem ser melhores do que você pensa, graças a uma rede crescente de programas de aprendizagem executiva que levam a empregos em empresas de primeira linha, incluindo grandes empresas de tecnologia como GoogleAmazon e Salesforce. Esses programas resultam em treinamento remunerado no local de trabalho, benefícios, coaching e acesso a redes de funcionários e ex-alunos.

Enfrentando a realidade

Nos últimos cinco anos, os empregadores nos Estados Unidos têm tentado resolver duas coisas. Uma é a escassez de mão de obra qualificada há muito prevista – especialmente em tecnologia. A outra é a necessidade de abordar ativamente as desigualdades sistêmicas e o preconceito inconsciente em suas práticas de contratação e promoção.

Para se manterem competitivos, eles perceberam que precisam ampliar sua busca por candidatos de alto potencial, já que agora há um maior reconhecimento de que nenhuma raça, etnia, gênero, CEP ou diploma tem o monopólio do talento.

Somos uma empresa baseada em talentos. É nosso único ativo. Portanto, ampliamos a abertura”, disse Pallavi Verma, diretor-gerente sênior da empresa de consultoria Accenture, que criou seu primeiro programa de aprendizagem em Chicago em 2016 e desde então trouxe 1.200 aprendizes em 35 cidades. “[O programa] faz parte da nossa estratégia de talentos.”

A Year Up é uma organização que oferece treinamento profissional gratuito com crédito universitário e gratuito em 29 localidades dos EUA. E, como muitas organizações sem fins lucrativos e faculdades comunitárias em todo o país, faz parceria com empregadores, como a Accenture, para encontrar aprendizes de alto potencial.

A Year Up fornece especificamente treinamento em habilidades técnicas e de negócios para preparar candidatos em potencial para um trabalho corporativo antes de recomendá-los a um empregador.
A principal missão do grupo é ajudar a fechar a brecha de oportunidades, especialmente para candidatos de minorias.

“Exigir um diploma de faculdade de quatro anos exclui 70% dos negros americanos e 80% dos latinos”, disse Morris Applewhite, diretor de engajamento corporativo da Year Up.

Há alguns anos, Chance Rodnez, agora com 30 anos, encontrou seu caminho para a Accenture após se formar em um dos programas gratuitos da Year Up. Depois de trabalhar como aprendiz da Accenture, ele foi contratado em tempo integral como analista júnior. Desde então, ele disse, foi promovido duas vezes e agora trabalha como analista sênior de computação em nuvem.

“Tem sido uma experiência de mudança de vida”, disse Rodnez. A Big Blue se move mais em direção à contratação baseada em habilidades;

A IBM foi uma das primeiras empresas de tecnologia a criar um programa de aprendizagem, iniciado em 2017. Até o final deste ano, ela terá treinado mais de 1.000 aprendizes e contratado a maioria deles, disse Kelli Jordan, diretor de carreira, habilidades e desempenho da IBM.

Seu salário médio de aprendiz é cerca de 50% maior do que a renda média local onde a pessoa trabalha, segundo a empresa. E, uma vez que alguém é contratado, normalmente vê um aumento no pagamento a partir daí.

“Até 20% dos cargos da IBM não exigem mais um diploma universitário de quatro anos”, disse Jordan. Mas é claro que subir na hierarquia em muitas grandes empresas acabará exigindo que os candidatos tenham um diploma de bacharel ou superior.

Os aprendizes também podem encontrar apoio nesse sentido. Na IBM, por exemplo, alguns de seus cursos de treinamento podem render créditos universitários de aprendizes.

No Bank of America, candidatos a empregos sem diploma universitário são considerados para cargos de nível básico e, às vezes, superiores por meio de um programa interno chamado Pathways, que oferece treinamento no trabalho e relacionado um coach, bem como salários e benefícios, incluindo mensalidades e reembolso para a faculdade.

Até o momento, a empresa contratou 10.000 pessoas de comunidades de baixa e média renda por meio do programa e pretende contratar mais 10.000 até 2025.

Provavelmente mais estágios

Há motivos para acreditar que a disponibilidade de estágios e uma maior ênfase nas habilidades em vez de diplomas na contratação crescerão. Junto com a Aon, a Accenture criou um manual para outros empregadores usarem como um guia na criação de seus próprios programas de aprendizagem.

Enquanto isso, há um grande interesse em fechar brechas de oportunidade e riqueza. No final do ano passado, uma coalizão de CEOs formou a OneTen, uma organização sem fins lucrativos com o objetivo de avançar a meta de contratar, promover e fazer progredir 1 milhão de negros sem diplomas de quatro anos “para carreiras que sustentem a família” na próxima década.

E os empregadores que não têm infraestrutura para fornecer, treinar e orientar candidatos a aprendizes de alto potencial agora podem trabalhar com uma empresa como a Multiverse para ajudar a criar e gerenciar programas de aprendizagem para eles.

A empresa com sede no Reino Unido foi fundada em 2016 e apenas começou a operar nos Estados Unidos neste ano. Desde a sua fundação, forneceu a verificação, treinamento, coaching, networking e colocação de 5.000 aprendizes em mais de 300 empregadores.

Pouco mais da metade dos participantes do programa são pessoas negras, metade são mulheres e um terço vem de comunidades com poucos recursos, disse a empresa. A grande maioria dos aprendizes que concluem o programa permanece no empregador por pelo menos dois anos.

Até agora, a Multiverse adquiriu 12 clientes nos Estados Unidos, incluindo Google, Verizon e Class Pass. Mas esse número pode mais que dobrar até o final do ano, disse Sophie Ruddock, vice-presidente e gerente geral de suas operações na América do Norte. “Estamos vendo a demanda decolar.”

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

ESG deverá dar o tom para financiamento no futuro

Fonte: https://www.canalenergia.com.br/noticias/53193344/esg-devera-dar-o-tom-para-financiamento-no-futuro

PEDRO AURÉLIO TEIXEIRA, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DO RIO DE JANEIRO

Mesmo que nos últimos anos muitas instituições financeiras já venham aderindo a pontos da temática ESG, o conceito deve continuar a ganhar força nos financiamentos futuros. Em painel realizado nesta quinta-feira, 11 de novembro, no Brazil Wind Power, o Gerente Executivo do Banco do Brasil, Jalce Leal Rodrigues Jr., acredita que não haverá espaço para projetos de agentes que tenham risco de algum impacto negativo à sociedade.  De acordo com ele, se ainda existe algum que não considere esses aspectos, será por pouco tempo. “A instituição financeira como intermediária aloca o capital do investidor, nosso cliente também. Tenho que prestar ainda muito mais atenção onde eu aloco o capital dos investidores e o nosso próprio”, avisa.

Para eles, as maiores instituições do Brasil têm essa preocupação e no Banco do Brasil, caso um projeto tenha alguma dúvida ou indicação de ineficiência na sustentabilidade, terá dificuldade em seguir  adiante.” As instituições do futuro estão olhado onde alocam seu capital”, explica. Para Igor Fonseca, Head de energia do Santander Brasil, como os investimentos no setor elétrico são de capital intensivo, há uma certa responsabilidade dos bancos na concessão de crédito. Em 2019, o Santander mobilizou € 120 bilhões para financiamento de renováveis até 2025. O banco também não financia empresas que tenham mais de 10% da sua receita oriunda de carvão.

As mudanças de cultura na sociedade, que intensificam o clamor pela sustentabilidade uma economia circular, vem sendo acompanhadas pelos bancos. De acordo com Wilson Chen Chang, Head de Energia de Project Finance do Itaú BBA, muitos temas vêm sendo incorporados no processo decisório, seja na concessão de crédito, estratégia ou posicionamento perante a sociedade. O banco quer atingir R$ 400 bilhões em crédito sustentável para setores com impacto positivo até 2025, em que a geração renovável está inserida. “Cada vez mais há incorporação de novos aspectos e uma nova ótica de entendimento do impacto do projeto”, salienta.

A pandemia de Covid-19 apareceu como uma espécie de catalisador do ESG, trazendo uma reflexão sobre a forma de investir. O Brasil ainda está atrás da realidade internacional ESG. Por aqui são ainda poucos fundos exclusivos, com valores considerados baixos. “É um mercado que está em amadurecimento no Brasil, com bastante espaço para crescer”, conta Fonseca, do Santander.

Para o financiamento de novas tecnologias, como eólicas offshore e hidrogênio verde, o head do Santander acredita que o Brasil deve se basear nas experiências globais. No começo, os projetos eram inicialmente financiados por sócios estratégicos ou de investidores com viés de venture capital. Na fase seguinte, os riscos já eram conhecidos por bancos e fornecedores, o que viabiliza o desenvolvimento do projeto. Na Europa, Estados Unidos e Ásia, com projetos bem desenhados nessa fórmula –  envolvendo ainda bom arcabouço contratual, fornecedores e acionistas – tem sido bem vistos pelos investidores internacionais. Fonseca cita o parque eólico offshore de Vineyard, nos Estados Unidos, que tem um pool de 13 bancos no financiamento. Outro empreendimento offshore no Mar do Norte arregimentou 28 bancos no financiamento, número atualmente inimaginável no Brasil. Ele considera que o hidrogênio ainda está um patamar abaixo das eólicas offshore, porque ainda há dúvidas sobre quem vai comprar o insumo e a que preço.

A mudança no retrato do financiamento – que saiu de um cenário com poucas alternativas – tem sido benéfica para o setor. Sem subsídios ou monopólios, os bancos aumentam a competição entre si. “Para um banco conseguir fazer mais negócios, tem que oferecer a estrutura adequada para a realidade do seu cliente e a concorrência desenvolve o mercado e reduz os custos”, aponta.

Agenda ESG tem acelerado evolução de indicadores sociais da eólica

Fonte: https://www.canalenergia.com.br/noticias/53193405/agenda-esg-tem-acelerado-evolucao-de-indicadores-sociais-da-eolica

MAURÍCIO GODOI, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE SÃO PAULO (SP)

Avaliação é de que as empresas passaram a ver seus impactos de forma mais ampla nas comunidades em que estão inseridas, mas ainda há muito o que avançar

As ações que cercam a agenda ESG e os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU (ODS) estão criando um ambiente que pode ser definido como uma coalização social. Ao mesmo tempo em que há o desenvolvimento dos negócios, a preocupação com os impactos sociais da presença das empresas ganha destaque. E nesse contexto a energia eólica não foge à regra, uma vez que os projetos estão no front da transição energética e descarbonização da economia.

O segundo dia do Brazil Windpower 2021 tratou o assunto de forma mais ampla ao abordar as lições e avanços da agenda ESG e a questão da diversidade e inclusão no setor. A avaliação geral é de que o caminho começou a ser trilhado por todos os stakeholders, mas o consenso é de que há muito a avançar, principalmente na igualdade de gênero.

E essa situação deriva da lentidão em tomar decisões em termos globais em um passado recente. A avaliação de Fabio Alperowitch, sócio fundador da Fama Investimentos, é de que não há mais tempo para que haja uma transição de forma suave a mudança tem que ser mais radical e imediata. “Seria diferente se tivéssemos dado ouvidos à ciência 40 anos atrás”, definiu ele.

A presidente executiva da ABEEólica, Élbia Gannoum, se mostra otimista com o momento. Apesar do cenário que traçou o executivo da Fama, agora a sensação é de que agora a mudança engrenará, uma vez que o setor privado está em peso na linha de atuação. “Agora temos a força da sociedade numa verdadeira coalização social”, acrescenta.

E nessa onda a ação das empresas junto às comunidades onde estão inseridas foi o alvo do debate. A CEO da AES Brasil, Clarissa Saddock, destaca que se o argumento da agenda ESG não é forte o suficiente para convencer um tomador de decisão rumo a esse caminho, o resultado do negócio em si supre esse espaço.

“A agenda ESG gera valor, mas se é necessário um outro argumento mais prático podemos citar o financeiro, pois traz mais investidores e clientes”, destaca.

Carla Primavera, superintendente da Área de Energia do BNDES, acrescenta que a agenda é um tema central em alocação de capital. Lembra ainda que o banco decidiu não aportar recursos mais em usinas a combustíveis fósseis. E avalia que muitos negócios não sobreviverão porque terão dificuldades de financiamento. Uma avaliação que corroborou o comentário de Élbia sobre uma resposta do primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson sobre o porquê de empresas deixarem as fontes poluidoras de geração de energia.

Em paralelo, essa agenda inclui ainda questões sociais que passam por impactos sociais positivos para as comunidades e diversidade e inclusão por meio da equidade de gênero. Esse é um assunto importante, o executivo da Fama Investimentos lembra que a crise da Síria deixou 1 milhão de refugiados de guerra, o clima deverá levar a 200 milhões de refugiados das mudanças climáticas. “É um impacto muito maior”, compara.

No Brasil, o tema da inclusão ganha contornos importantes. A professora e assessora estratégica na FGV Energia, Fernanda Delgado, destacou que 37% das famílias são lideradas por mulheres. E o setor elétrico é um dos que apresentam maior desigualdade de gênero. Não há um número fechado mas em termos gerais, 26% dos cargos de chefia contam com mulheres à frente.

A líder de Diversidade e Inclusão América do Sul da Engie, Erika Zoeller, destaca que em essa situação é global, não é exclusiva do país. E lembra que a companhia na qual trabalha há cerca de dois anos está com a meta de até 2030 alcançar igualdade no número de homens e mulheres em posição de liderança. Atualmente esse índice é de 24% no mundo.

Élbia afirma que em seus 20 anos de setor elétrico já viu uma grande evolução nesse ponto. Mas considera que ainda há muito o que avançar e vê um avanço importante no empenho das empresas e setor financeiro em trilhar o caminho a essa igualdade.