quinta-feira, 18 de abril de 2019

Mestrados e doutorados EAD: os efeitos da nova medida da Capes

Mestrados e doutorados EAD: os efeitos da nova medida da Capes

Fonte: https://desafiosdaeducacao.com.br


As instituições de ensino superior (IES) já estão autorizadas a oferecer pós-graduação stricto sensu na modalidade a distância no Brasil. Em dezembro passado, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) publicou uma portaria que regulamenta a atividade.

A nova regra deve ampliar a oferta e a demanda de mestrados e doutorados, abrindo uma nova frente de atuação para as IES. Antes da decisão, as instituições só podiam oferecer pós-graduação online lato sensu, que engloba especializações e MBAs.

Ampliação é positiva

“É uma inovação que vem para ficar”, avalia o vice-presidente executivo do Grupo Universidade Brasil, Décio Corrêa Lima, em entrevista ao portal Desafios da Educação. “Nas melhores universidades do mundo, faz muito tempo que são disponibilizados cursos stricto sensu a distância ou semipresencial.”
A medida, segundo Lima, fortalecerá especialmente as regiões onde há carência de determinados cursos. “Não existe mestrado em Contabilidade no Norte do Brasil, por exemplo. Agora, essa carência poderá ser atendida por meio da opção EAD.”
Para Adriano Pistore, vice-presidente de operações de EAD da Estácio, a portaria não apenas abre espaço para a expansão do mercado de pós-graduação stricto sensu como oficializa um modelo de trabalho contumaz.
“Achei a decisão excelente porque o que mais acontece nesse tipo de curso é orientação EAD. O trabalho entre aluno e orientador sempre foi muito a distância, com o aluno tendo autonomia”, diz Pistore ao Desafios da Educação.

EAD ganha mais força

Para produzir a portaria nº 275, de 18 de dezembro de 2018, a Capes teve o suporte de representantes de oito entidades ligadas ao ensino superior, como a Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) e a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes). Redigido entre os meses de agosto e novembro, o documento é baseado em características e dados do setor, além de experiências bem-sucedidas de mestrados e doutorados a distância no exterior.
“[A portaria] é o pontapé inicial para tirar o Brasil desse atraso em relação ao que vem ocorrendo no mundo”, disse João Mattar, diretor de desenvolvimento científico da Abed, durante a entrega do texto à Capes.
Os novos mestrados e doutorados a distância ainda assim precisarão manter atividades presenciais. Entre elas estão estágios obrigatórios, seminários integrativos e pesquisa de campo. As atividades podem ser realizadas tanto na sede da IES quanto nos polos de educação a distância.
Para oferecer mestrado e doutorado EAD, os centros universitários deverão ser credenciados junto ao Ministério da Educação (MEC). A Capes deve criar comissões com especialistas em educação a distância para acompanhar e avaliar os cursos periodicamente.
Logo após a autorização da EAD para os cursos de mestrado e doutorado, ainda em dezembro, o governo federal ampliou para 40% a carga horária a distância de graduações presenciais de ensino superior. Além de aquecer o mercado de educação a distância, a portaria deve favorecer a consolidação do ensino híbrido no Brasil.

O desprestígio da leitura e suas consequências

O desprestígio da leitura e suas consequências

Fonte: https://desafiosdaeducacao.com.br/

Por Juracy Assmann Saraiva, Tatiane Kaspari e Ernani Mügge*
Estudiosos, escritores e leitores de diferentes estratos sociais atribuem à literatura uma função formadora, visto que ela contribui para o desenvolvimento de indivíduos emocional e psiquicamente equilibrados, conscientes de sua responsabilidade social e aptos a posicionar-se criticamente em face de seu meio. Paralelamente, professores dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio atestam o desinteresse de seus alunos pela leitura de textos literários, posicionamento que somente é contrariado por raras exceções.
No ensino superior, é generalizada a queixa entre professores dos cursos de letras sobre o nível de competência leitora de seus alunos, cujas referências a respeito de obras da literatura brasileira e ocidental são tão escassas que, para os docentes, torna-se difícil promover diálogos que possam elucidar aspectos peculiares à arte verbal e ao seu papel de testemunho dos dilemas humanos da contemporaneidade e de outras épocas.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) — que visam traçar um panorama das práticas de leitura dos jovens brasileiros e de sua competência leitora — confirmam as carências das novas turmas que ingressam no ensino superior e situam-nas na precariedade do ensino fundamental e médio.
Um estudo realizado pelo Instituto Paulo Montenegro, em parceria com a ONG Ação Educativa e o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope Inteligência), estima que 27% dos brasileiros não sabem ler ou leem apenas títulos e frases, reconhecem uma informação explícita e têm dificuldades de se expressar por meio da escrita, sendo, portanto, analfabetos funcionais; 42% têm uma habilidade básica de leitura, sendo capazes de ler textos curtos e de localizar informações explícitas; 23% apresentam um nível intermediário de leitura, sendo capazes de fazer pequenas inferências e de interpretar e de realizar a síntese de textos diversos; e apenas 8% dos brasileiros efetivamente compreendem o que leem, são capazes de relacionar e de comparar informações e de situar-se criticamente diante do texto lido (Inaf, 2016).
Os recortes realizados pelo Inaf, conforme os níveis de ensino, também sublinham a ineficiência do atual sistema de ensino no desenvolvimento da capacidade leitora dos indivíduos. Segundo a pesquisa (Inaf, 2016), 11% dos alunos que cursam ou que finalizaram o ensino médio são analfabetos funcionais, bem como 4% dos inscritos em curso superior ou graduados.
Os resultados do Pisa, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), referentes a 2015 e publicados em dezembro de 2016, mostram um desempenho pouco satisfatório dos adolescentes brasileiros. Na prova, aplicada em 70 países, os brasileiros atingiram a 63ª posição em ciências, a 59ª em leitura e a 66ª em matemática.
O Brasil, que está entre as piores colocações do ranking, ficou à frente de Trinidad e Tobago, Costa Rica, Qatar, Colômbia e Indonésia (MEC, 2016). O resultado permite afirmar que a competência de leitura se efetiva por meio de sua qualidade e não pelo domínio do código escrito, já que todos os participantes da prova estavam aptos a ler, ainda que não fossem capazes de migrar da apreensão do código verbal para níveis de compreensão e interpretação do texto.
Por sua vez, os resultados do Enem também confirmam a distância entre o objetivo da escola — formar leitores críticos — e sua concretização. Os resultados da prova aplicada em 2016, que representam o desempenho de 6,1 milhões de participantes, demonstram que eles atingiram a média 505,15 na prova objetiva que avalia conhecimentos gerais e a média 520,5 na prova específica da área de linguagens e códigos e suas tecnologias (MEC, 2017). As médias alcançadas evidenciam o baixo nível de compreensão da leitura de estudantes que, pelo nível em que se encontram, deveriam ter pleno domínio desse processo.
Os indicadores de leitura levantados pelo Ibope e pelo Instituto Pró-livro em 2015 e divulgados em 2016, na quarta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (Failla, 2016), mostram que a média de leitores entre a população brasileira é de 56%; no âmbito do ensino fundamental, ela alcança 84%; no ensino médio, 78% e, no ensino superior, 93%. O mesmo ocorre com o número médio de livros lidos ao ano, que, em nível nacional, é de 4,86 e, entre os estudantes em geral, é de 9,38.
Assim, os índices da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil apontam, por um lado, para a relevância do ensino regular no incentivo ao hábito da leitura. Por outro, no entanto, evidenciam ser o ensino médio o elo mais vulnerável na formação da competência leitora em ambiente escolar, visto ser este o nível com menor índice de leitores.
Nesse contexto, equívocos na abordagem pedagógica das obras — muitas vezes, apenas enfocadas por meio de fragmentos ou de resumos — juntam-se a problemas de ordem estrutural das escolas e a fatores socioeconômicos, frustrando o objetivo central da formação de leitores proficientes nas instituições de ensino.
Paralelamente, as novas tecnologias de informação e de comunicação propiciam, na atualidade, o acesso a uma infindável gama de textos literários, mas os avanços tecnológicos não multiplicaram o número de leitores proficientes.
Com efeito, os dados resultantes de provas e de pesquisas contrastam com a facilidade de acesso a materiais escritos e com a importância da leitura de textos literários, expressa em posicionamentos de estudiosos. Esses demonstram que se fazem necessárias ações que possam romper com os índices da competência leitora dos brasileiros, por meio da imersão nos efeitos benéficos resultantes do contato com a literatura.

A imprescindibilidade da literatura

O apelo à valorização da literatura ganha diferentes matizes, e esses provêm da constatação de que, nos diferentes níveis de ensino, as áreas voltadas para as ciências experimentais se sobrepõem às das ciências humanas; decorre, também, do reconhecimento de que o mundo contemporâneo experimenta profundas contradições, assinaladas pelo fato de que os avanços científicos e tecnológicos não contribuíram para eliminar profundas desigualdades entre povos e nações.
Nas palavras de Antonio Candido, a contemporaneidade, comparada com épocas pregressas, alcançou um elevado nível “de racionalidade técnica e de domínio sobre a natureza” (Candido, 2004, p. 170), que permitiria, até mesmo, eliminar a fome no mundo, caso não subsistisse a irracionalidade do comportamento do ser humano. Reúnem-se, pois, no momento presente, impensáveis conquistas, resultantes do desenvolvimento da ciência e da técnica, a experiências desumanizadoras.
O avanço e a barbárie ficam visíveis quando se comparam os ataques por aviões controlados a distância por meios eletrônicos e computacionais, no Afeganistão, no Iraque, na Síria, com os campos de refugiados e com a fuga de imigrantes, provenientes desses países, em sua luta desesperada para abandonar o horror da guerra.
Outra prova da barbárie são os homicídios no Brasil, cujos índices, entre 2005 e 2015, apontam para 28,9 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes. Durante esse período, 318 mil jovens, a maioria estudantes das séries finais do ensino fundamental e do ensino médio, entre os quais 71% eram negros, tiveram suas vidas ceifadas por uma violência indescritível, que se revela, mas também se dilui em dados estatísticos (Cerqueira et al., 2017).
Entretanto, Antonio Candido visualiza, em meio a um mundo marcado por conflitos bélicos, assassinatos e opressão, movimentos de denúncia, implementados por comunidades que clamam por justiça e pelo respeito aos direitos humanos. Entre esses, o teórico inclui o acesso à literatura, justificando seu posicionamento por aspectos essenciais do homem, que necessita tanto da ficção e da fantasia quanto da alimentação e do sono.
Portanto, a leitura de textos literários constitui, segundo esse autor, uma questão de direitos humanos, que, uma vez atendidos, acrescentam ao indivíduo a garantia do acesso ao conhecimento, à capacidade reflexiva, ao aprimoramento da sensibilidade e à compreensão da complexidade da natureza humana.
Leyla Perrone-Moisés (2000) ratifica o posicionamento de Antonio Candido e sublinha o valor permanente da literatura, ao mesmo tempo que assume sua defesa, ao denunciar o menosprezo pela instituição literária e, particularmente, pelas obras do passado, responsáveis pela definição do cânone, nas sociedades “dominadas pela tecnologia e pela economia de mercado” (2000, p. 12).
Entretanto, segundo Perrone-Moisés, as características da contemporaneidade não põem em risco a arte literária, que se transforma e se renova, dialogando com a tradição e instituindo novos paradigmas. O que precisa de defesa é a literatura, “como disciplina escolar e universitária” (2005, p. 346).
Em uma conferência pronunciada em janeiro de 1977, Roland Barthes, integrando-se à mobilização a favor do ensino da literatura, declara: “Se, por não sei que excesso de socialismo ou de barbárie, todas as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a disciplina literária que deveria ser salva, pois todas as ciências estão presentes no monumento literário” (Barthes, 1979, p. 18).
Para o pensador, a literatura mobiliza saberes históricos, geográficos, sociais, antropológicos, mas sem se fixar em qualquer um deles, tampouco sem enaltecer um em detrimento de outros.
Seja concebida como recurso para o pleno desenvolvimento psíquico, como vital necessidade de imersão no simbólico ou como fundamento de humanização, a literatura atua sobre os indivíduos, formando-os pela convergência do conhecimento, da sensibilidade e da ética.
Os autores mencionados reafirmam a importância da literatura e sublinham razões pelas quais ela deve ser preservada e ensinada: ela envolve o sujeito em um processo de autoconhecimento e de revelação da malha social, induzindo-o a posicionar-se criticamente em relação à sociedade e aos procedimentos expressivos da linguagem.
O desempenho da competência leitora dos brasileiros, a crucial necessidade de que seja alterado e a importância da literatura no que se refere à formação de leitores e de sujeitos comprometidos com a sociedade de que fazem parte confirmam que a leitura de textos literários é imprescindível desde os anos iniciais do ensino fundamental até o ensino superior.
*Escrito por Juracy Assmann Saraiva, Tatiane Kaspari e Ernani Mügge, o artigo “O desprestígio da literatura e suas consequências” está na edição n° 85 da Revista Pátio Ensino Fundamental. Para assinar a revista, CLIQUE AQUI.
Este artigo é uma adaptação de um capítulo do livro Texto literário: resposta ao desafio da formação de leitores (Oikos, 2017).

Sobre os autores

Juracy Assmann Saraiva é doutora em Teoria da literatura, professora e pesquisadora da Universidade Feevale. E-mail: juracy@feevale.brTatiane Kaspari é graduada em Letras e mestra em Processos e Manifestações Culturais. E-mail: tatianekaspari@yahoo.com.brErnani Mügge é doutor em Literatura brasileira, portuguesa e luso-africana, professor e pesquisador da Universidade Feevale. E-mail: ermugge@feevale.br.

Referências


domingo, 7 de abril de 2019

Entidades que compõem o CPC aprovam novas regras de governança para o Comitê

Fonte: https://cfc.org.br/noticias/entidades-que-compoem-o-cpc-aprovam-novas-regras-de-governanca-para-o-comite/

Maristela Girotto

Com a finalidade de aperfeiçoar as regras de governança do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e, com isso, melhorar a transparência do colegiado, os presidentes das entidades que constituem o Comitê aprovaram em reunião, nesta sexta-feira (5), o Código de Conduta destinado aos membros do CPC, aos integrantes dos grupos de trabalho criados pelo Comitê e aos componentes da Fundação de Apoio ao CPC (FACPC).

“Queremos imprimir novos padrões de governança visando fortalecer o trabalho que é feito pelo CPC, pelos seus grupos técnicos e pela fundação que dá suporte às atividades do Comitê de Pronunciamentos Contábeis”, afirma o presidente do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Zulmir Breda.
Além da aprovação do Código de Conduta, os presidentes das entidades analisaram e aprovaram a proposta de alteração do Regimento Interno do CPC.
O Comitê é composto pelo CFC, pela Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), pela Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Nacional), pela B3 (antiga BM&FBovespa), pela Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e pelo Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon).
A inclusão de uma nova entidade como membro do Comitê também foi tema da pauta da reunião. Aprovada, a proposta vai incluir no CPC um representante dos investidores do mercado de capitais. Mas isso somente será efetivado se o Plenário do Conselho Federal de Contabilidade aprovar a alteração da Resolução CFC nº 1.055/2005, que criou o Comitê.
“A Resolução nº 1.055 está passando por revisão e as alterações propostas deverão ser submetidas à aprovação do Plenário do CFC na reunião ordinária de abril ou maio”, afirma Zulmir Breda.
Outros temas que constaram da pauta da reunião dos presidentes das entidades que compõem o CPC foram a apreciação do Relatório de Atividades do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, referente ao ano de 2018; e a análise e aquiescência do Plano de Trabalho do CPC para 2019.
Código de Conduta
Dirigido aos membros do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, aos dos Grupos de Trabalho e aos integrantes da Fundação de Apoio ao CPC, o documento que fixa as regras de governança traz dispositivos que buscam tornar claras as normas éticas de conduta; contribuir para o aperfeiçoamento dos padrões éticos; estabelecer dispositivos básicos sobre conflitos de interesses públicos e privados e limitações às atividades profissionais ao exercício da função de membro; e, entre outros objetivos, criar mecanismo de consulta, destinado a possibilitar o prévio e pronto esclarecimento de dúvidas quanto à conduta ética que deve se adotada pelo membro.