Veja análise da equipe econômica do Banco Schahin sobre a manutenção da Taxa Selic em 10,75%
Em reunião encerrada na noite desta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a taxa Selic inalterada, em 10,75% ao ano, após promover três aumentos consecutivos nos encontros anteriores. A decisão foi tomada de maneira unânime entre os membros do Copom e era praticamente consensual entre os analistas.
O comunicado divulgado ao término da reunião afirmou que "o Copom observa a continuação do processo de redução de riscos para o cenário inflacionário que se configura desde sua penúltima reunião" e que este nível da taxa de juros básica "proporciona condições adequadas para assegurar a convergência da inflação para a trajetória das metas". De maneira interessante, o texto citou que o Comitê "não espera que o nível de inflação registrado nos últimos meses se mantenha em um futuro próximo", ou seja, admite que alguma aceleração da inflação nos meses seguintes já está considerada em seu cenário.
Em nossa visão, tal decisão está baseada na melhora observada no ambiente inflacionário recente, que foi refletida em três meses de variações próximas de zero no IPCA, além da deterioração das perspectivas para a economia mundial e de sinais de que a atividade interna cresce em ritmo menos intenso, fatores que contribuem para minimizar os riscos para a inflação futura. A despeito das expectativas dos agentes para o IPCA de 2011 ainda se encontrarem acima do centro da meta, entendemos que as incertezas que existem tanto no cenário doméstico como, principalmente, no âmbito internacional, tornam tais previsões mais sujeitas a erros, de modo que não caberia ao BC reagir a esta divergência neste momento. Em suma, em um ambiente de elevada imprevisibilidade, o melhor a ser feito é aguardar sinais mais conclusivos das variáveis relevantes, que tornem o cenário mais claro para futuras decisões.
Desta forma, diante da perspectiva de que a Selic não será mais alterada por enquanto, a grande questão que se coloca agora consiste em identificar qual o timing e a direção do próximo movimento a ser tomado pelo Copom. Em meio às incertezas mencionadas no parágrafo anterior, não há como fazer apostas convictas a este respeito no contexto atual, além de apontar como mais provável a manutenção dos juros até o final do primeiro trimestre do ano. Após isso, não se pode descartar no momento as possibilidades de alta e de baixa, sendo que o sentido a ser tomado dependerá da evolução do cenário inflacionário e seus condicionantes.
A redução da Selic poderia vir com a consolidação de um ritmo de crescimento interno mais moderado e com a acomodação da inflação em torno da meta, confirmando a tendência dos últimos anos que tem mostrado que a economia brasileira está preparada para conviver com níveis de juros cada vez mais baixos e alinhados aos padrões internacionais. Por outro lado, os fatores condicionantes do consumo seguem sólidos, com altas significativas da massa salarial e do crédito, movimento impulsionado também por políticas fiscal e creditícia ainda expansionistas. Ou seja, caso este cenário se mantenha, poderá caber à política monetária promover o ajuste, requerendo assim retomada do aumento da Selic em algum momento em 2011. Ou seja, a solução deste dilema entre aumento/redução da Selic em 2011 está em grande medida nas mãos do governo, que deverá definir o mix de suas políticas - quanto maiores os estímulos em termos de gastos públicos e crédito, maior será a chance do BC precisar apertar a política monetária (e vice-versa).
De toda maneira, como de costume fica a expectativa para a leitura da ata, a ser divulgada na próxima quinta-feira (dia 09), que poderá trazer elementos adicionais em relação aos aspectos decisivos para a seqüência da política monetária. Por hora, reforçamos a visão neutra em relação ao curto prazo, sem perspectiva de mudanças na Selic ao menos até o final do primeiro trimestre de 2011."
*Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin
Fonte: FinancialWeb
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