Governo
decide que receita bruta anual de até R$ 72 mi dará direito a regime mais
simples de tributação, em 2014
Tributaristas
e empresários, no entanto, dizem que novo teto não chega nem a corrigir
inflação
Fonte: Folha de São Paulo
O governo
decidiu ampliar o leque de empresas que podem prestar contas com a Receita
Federal considerando o lucro presumido, um regime simplificado de tributação.
Desde
1998, só as empresas com receita bruta anual de até R$ 48 milhões podiam usar
esse instrumento. A partir do ano que vem, o valor sobe para R$ 72 milhões.
A medida
também tinha sido proposta pelo Congresso. Emenda do deputado Alfredo Kaefer
(PSDB-PR) em medida provisória foi vetada nesta semana pela presidente sob o
argumento de que não havia previsão de recursos orçamentários para
implementá-la neste ano.
"A
vigência poderia muito bem ter sido jogada para o ano que vem, como fizeram.
Isso é tripudiar no Legislativo", reagiu Kaefer.
"Foi
o mesmo que ela fez com a desoneração da cesta básica", reclama. "O
PSDB aprovou, ela vetou e depois lançou a mesma medida."
Se
entrasse em vigor neste ano, a medida custaria R$ 800 milhões ao Tesouro
Nacional, segundo estimativas da Receita.
Para
2014, a renúncia será de R$ 976 milhões, subindo para R$ 1,082 bilhão em 2015 e
R$ 1,201 bilhão em 2016, segundo cálculos do governo.
AINDA
INSUFICIENTE
Apesar de
positiva, a elevação do teto de faturamento para que mais empresas se enquadrem
no regime de lucro presumido é considerada insuficiente para corrigir a
inflação dos últimos dez anos, quando ocorreu o mais recente reajuste do
limite.
Para
tributaristas e empresários consultados, o limite deveria variar de R$ 90
milhões a R$ 96 milhões, e não se limitar a R$ 72 milhões. Pelo IGP-M da FGV, o
valor atualizado até janeiro de 2013 seria de R$ 94 milhões.
"É
bom, mas não é benesse. Era uma obrigação do governo, e atrasada. Quando não há
reajuste, acontece uma apropriação indevida de valores pelo governo", diz
João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento
Tributário.
A maior
parte das empresas que estão no regime de lucro presumido recolhe 3% de Cofins
e 0,65% de PIS. No sistema de cálculo pelo lucro real, as alíquotas são 7,6% e
1,65%, respectivamente.
A
ampliação do teto deve ter efeitos na arrecadação federal e na economia. Na
medida em que mais empresas optam por um sistema mais simplificado de
tributação, com alíquotas menores de PIS e Cofins, o governo pode arrecadar
menos.
"O
lado bom é que os recursos economizados com o pagamento de tributos devem
turbinar os negócios das empresas e ter mais reflexo na economia", diz
Jorge Henrique Zaninetti, sócio do setor tributário do Siqueira Castro
Advogados.
Setor de
serviços deve ser um dos mais beneficiados
Empresas
de médio porte do setor de serviços devem ser as mais beneficiadas pela
ampliação do teto de faturamento para as companhias que podem optar pela
tributação no lucro presumido.
A
Confederação Nacional de Serviços (CNS) estima que grande parte das 2,2 milhões
de empresas que representa deva aderir ao lucro presumido. Juntas, empregam
12,2 milhões de trabalhadores e faturaram R$ 2,4 trilhões no ano passado.
"Muitas
companhias do setor de serviços não são contempladas pelo Simples. Por essa
razão, é importante que mais empresas possam agora optar por um regime que
permita simplificar a contabilidade e reduzir custos", diz Luigi Nese,
presidente da CNS.
No
Simples, o pagamento de tributos federais, estaduais e municipais é feito em
guia única de recolhimento, e o valor do tributo é proporcional ao faturamento
bruto e varia conforme o setor de atuação.
No setor
de serviços, as empresas de telemarketing, promoção e eventos, feiras e
congressos, e informática são algumas das que devem aderir ao regime de lucro
presumido.
No caso
das indústrias, um cálculo da Fiesp a partir de números do IBGE aponta que
1.200 empresas podem ser beneficiadas, equivalendo a 270 mil postos de trabalho
(4,5% do total).
Segundo a
Receita Federal, em 2011, existia 1,1 milhão de empresas sendo tributadas pelo
lucro presumido. Pelo regime de lucro real, eram 190 mil.
Cassio
Zocolotti, da consultoria FBM, também aponta o setor de serviços como o grande
beneficiado. Ele estima que, hoje, uma empresa com faturamento de cerca de R$
70 milhões tem cerca de oito funcionários dedicados à tributação.
"Com
a simplificação trazida pelo lucro presumido, isso poderá ser reduzido à
metade. Somando desoneração e a redução de custos administrativos, a empresa
pode economizar até 6% do seu faturamento bruto."
Para o senador Francisco
Dornelles, o importante é reduzir a complexidade do sistema. (CR e RM)
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