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Alexandre E. Santo
06/04/2011
Quando comecei a trabalhar no mercado, em meados dos anos 1980, havia uma carinhosa história sobre a fama de desconfiado dos mineiros.
Rezava a lenda que, na bolsa de Minas Gerais, quando um investidor apregoava acompra de uma ação, um outro, com pé atrás, pensava: Uai, se ele quer comprar por que eu vou vender? Se outro apregoasse a venda, o raciocínio seria: Uai, se ele quer vender por que eu vou comprar? Brincadeiras à parte, é o que sempre digo aos meus alunos:
“Sem opiniões contrárias não existe negócio em bolsa”.
A teoria das finanças evoluiu ao longo do século XX e encontrou em Eugene Fama um dos seus expoentes, ao desenvolver as bases da hipótese dos mercados eficientes. Em tese, um mercado é eficiente quando os investidores “operam” de forma racional, considerando o risco e buscando maximizar seus retornos. Além disso, os preços correntes incorporam todas as informações disponíveis no mercado, que são acessíveis a todos. Portanto, esses tendem a se equilibrar até que novas informações ocorram e venham a afetar os agentes econômicos.
Em meados de 2005, passei a considerar fortemente a possibilidade de uma ruptura no mercado imobiliário americano, o que poderia gerar uma crise de confiança e afetar as bolsas de valores negativamente. Com receio do que pudesse vir a ocorrer, adicionado ao estigma que muitos me imputam de ser um “pessimista de carteirinha”, procurei estudar teses que pudessem justificar comportamentos de “manada” dos mercados, sobretudo para os momentos de pânico, quando a hipótese de Fama pouco funcionaria. Foi quando descobri a teoria das finanças fractais.
De forma resumida, essa teoria contrapõe-se à hipótese de mercado eficiente, ao advogar a tese de que os preços e a experiência passada influem de forma decisiva o comportamento do investidor hoje, exercendo influência também sobre as expectativas futuras.
Outro ponto importante a se ressaltar diz respeito ao horizonte temporal do investidor, o que influencia na liquidez. Alguns “operam” com viés de curtíssimo prazo, outros a médio prazo, enquanto os institucionais objetivam mais o longo prazo (cada qual com um interesse distinto). Assim sendo, não teremos necessariamente os preços negociando aos seus valores justos, sem contar que a liquidez, nos momentos de crise sistêmica, “seca”, derrubando os preços de forma dramática.
Sob essa ótica não seria errôneo considerar que a análise gráfica incorpora conceitos dos fractais. Ao tentar antecipar os movimentos de alta ou baixa das cotações, o analista gráfico avalia comportamentos passados (inclusive sob aspectos psicológicos) que tendem a se replicar, através de linhas de tendências, suportes, resistências, que “desenham” figuras geométricas, como triângulos, retângulos, cunhas, ombro-cabeçaombro e tantas mais. Muitos investidores, sobretudo os mais jovens, vêm investindo em cursos de análise técnica para aumentar sua eficiência no mercado.
Também em relação à análise fundamentalista podemos encontrar aderência a essa discussão, à medida que o cálculo do ‘valuation’ de uma empresa se faz com uso de uma metodologia de projeção de fluxos de caixa futuros, descontados a uma taxa de juros (o custo médio de capital da empresa) que se forma pelo uso do modelo de precificação de ativos CAPM (estimativa do custo do capital próprio), de William Sharpe, um dos precursores da teoria moderna das finanças.
Com a crise de 2008, muitos acadêmicos intensificaram seus estudos para justificar comportamentos de ativos. Semana passada, fui à Apimec do RJ para o lançamento do livro “Finanças e Mercado de Capitais. Mercados fractais: a nova fronteira das finanças”, Cengace Learning, organizado pelo professor Carlos José Guimarães Covas e sua equipe de pesquisadores. Uma ótima sugestão para os interessados no tema.
Por fim, como sou de uma família de mineiros, sugiro que os investidores sempre procurem tomar cuidado, pois o mercado está longe de ser eficiente, visto que boa parte das informações é comprovadamente assimétrica.
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